Bolsonaro na ONU e o Medo
O discurso de Bolsonaro na Assembléia da ONU foi inspirador.
Me inspirou a escrever sobre o Medo. Esse Medo com letra maiúscula, esse Medo que move o mundo e que faz com que milhões se movam em direção ao passado, porque temem o futuro.
Bolsonaro é temente a Deus. Começou seu discurso na ONU agradecendo a Deus por estar vivo. E eu diria, parafraseando a comédia francesa: “o que fizemos ao bom Deus para merecer Bolsonaro e tudo aquilo que ele representa?”
Essa expressão “temente a Deus” revela o sentimento essencial que move as massas ao fundamentalismo religioso. É o Medo: medo da liberdade (segundo Erich Fromm), medo de ser feliz (segundo os fanáticos lulopetistas), medo da responsabilidade de ser adulto (segundo Reznal Odnanref), medo do mundo adulto e moderno.
Esse Medo moveu a eleição de Bolsonaro, a eleição de Trump e a fuga da Inglaterra da União Europeia. Esse Medo move o crescimento do populismo na Itália, na Hungria, na Polônia e na Argentina.
Esse Medo não tem, na verdade, ideologia de direita nem de esquerda. Ele move igualmente Maduro e Morales, Witzel e Weintraub. As massas não têm ideologia; elas têm medo e buscam quem possa livrá-las do Mal, amém.
O Mundo Moderno é assustador: é um mundo de violência urbana e de terrorismo; de doenças e de ignorância; de desemprego e descaso. É um mundo onde as pessoas não sabem mais quem é menino ou menina; não sabem mais o que é certo ou errado; onde não sabem mais o que devem fazer para lidar com isso tudo.
Diante do Medo, melhor fugir “pra outro lugar,” parafraseando um discurso musical feito por outro brasileiro na ONU.
Fugir para o passado, para longe de 2019, para o Século 19, quando havia maior clareza do que era o Bem e o Mal. Fugir para quando não era preciso ter um QI superior para usar um telefone (pois nem telefone havia). Fugir de volta à infância, para um mundo mais simples, deixando os problemas da vida adulta para serem resolvidos por um pai que sabe tudo e nos dá segurança.
As pessoas (atualmente, segundo as pesquisas, cerca de 20 milhões) querem muito que Bolsonaro seja esse pai descrito pela Regina Duarte. Querem muito acreditar nessa fantasia, mesmo contra as evidências em contrário.
Se não acreditarem nisso… resta o quê?
O Medo.